quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

As fotografias não envelhecem mais

As fotografias não envelhecem mais.
Não que seja correto que uma fotografia, com o tempo, sofra perda de qualidade tanto visual, quanto degradação do papel. Mas os objetos, hoje, não acompanham mais os ciclos de nossas vidas. Não há cartas escritas à mão envelhecidas nas gavetas, só emails; Não há roupas personalizadas (das antigas festas de halloween, apresentação teatral, ou algo do tipo, onde se fazia o seu próprio Batman, Mulher-Maravilha ou qualquer personagem inventado) e velhas no armário, pois hoje, as roupas já vêm personalizadas; Não há mais aquele tênis que você rasgou quando fez o gol mais bonito da sua vida, pois hoje, não se aceita mais isso (vai pro lixo); Não há mais aquele relógio “verde e ridículo” dado por sua antiga namorada, e hoje com o pé quebrado, que te levantava todas as manhãs, e que deixava a cor verde em sua memória quando você estava em outros lugares; Não há mais corações talhados na árvore com as iniciais dos amados, mas letras padronizadas de uma mensagem mandada pelo celular, que se junta e se iguala à todas as outras que você têm na memória do celular.
O esforço de se escrever uma carta à mão e mandá-la pelo correio diminui severamente quando se manda um email, e na mesma proporção o coração de quem escreve se petrifica.
O valor do destinatário diminui proporcionalmente ao valor de um email; torna-se descartável e comum, tanto quanto o email, sendo este que será apagado depois de um tempo, para esvaziar a memória da sua conta na internet.
A sua fotografia, leitor deste texto, talvez, não envelheça mais...

21 Comments:

Leandro (loKo) said...

É verdade, nada mais envelhece no mundo digital, tudo é passageiro, pouca coisa hoje em dia tem sentido extremo, após a invenção do computador, a gente nem manda mais cartinha de amor para as namoradas, ninguem, ou quase ninguem mais dá flores!
belo blog,
muito bom o post!

Priscila Mayumi said...

Nossa.
Amei muito seu texto, tô até meio boba com ele. Muito lindo. Concordo plenamente contigo.!

beijos

Gustavo Scussel said...

Texto ótimo, bem relativo e característico da era digital.
De qualquer maneira ainda sou um fã de cartas escritas à mão. Mantenho contados em outras cidades pelo MSN mas não deixo de lado uma carta de vez em quando. Realça qualquer interação entre duas pessoas ou mais.

Feänor said...

Pois é... É o reflexo da sociedade capitalista de hoje. Tudo precisa ser feito pra ontem, precisamos digerir toneladas de informações... E mal sobra tempo pra esse tipo de coisa como escrever cartas à mão. Eu mesmo nunca postei uma carta que eu escrevi no correio... Já e-mails e SMSs, talvez precise contar na casa dos milhões...

Isso é uma pena mesmo, e não é mero saudosismo. Essa rapidez supostamente conveniente tem também o seu preço: um fast food não tem o mesmo gosto ou valor nutricional de uma "slow food"; uma carta escrita a mão e cuidadosamente elaborada não tem o mesmo conteúdo sentimental que um e-mail enviado às pressas; a calma caminhada até o trabalho pela via florida não é a mesma coisa que dirigir 50 minutos no trânsito barulhento e abarrotado de sp...

Mas o pior de tudo, é que hoje, não "perdemos" mais nosso tempo observando os pássaros ou o desabrochar das flores.

Essa especialização da sociedade vem, creio, se enraiza em nosso ser a partir do colégio - momento em que somos, hoje, INSTRUÍDOS, e não ensinados... Aprendemos um ofício, não a viver e interpretar o mundo. Somos máquinas, e não mais humanos...

Everaldo Ygor said...

Olá!
Ótima reflexão...
um dia desses escrevi uma carta para uma Pessoa que está no Mexico, foram 04 paginas... As vezes desligo tudo por aqui e vou ler um bom livro...
Parabéns
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/

Anônimo said...

Realmente...
A era digital tem deixado muita beleza esquecida, oferecendo em troca seus confortos e facilidades...
Sinto que com isso o mundo, e temo, os corações, esfriem de alguma forma...
Eu procuro sempre 'aquecer-me' com um algum velho hábito...
Quem sabe assim isso perdure!
Um grande abraço!

Thiago said...

belo post, realmente com a tecnologia coisas que davam trabalho, mas tinham valor sentimental maior, estao diminuindo cada vez mais, o ser humano fica a cada dia mais acomodado mesmo

Unknown said...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Fabíola Weykamp. said...

Gostei deveras do seu texto.
Caras e bocas no meio da leitura eu fiz: é verdade, hum... tens razão... bá, verdade..., e por ai vai.
E a última foi a mais sincera: me sinto acompanhada.

Adorei o seu texto, seu blog. Muito bonito!!

Um abraço!

Fernando Assad said...

Olá!

Fico muito satisfeito e feliz de ver que gostaram do blog!!

Um abraço!!!

Mayane Eccard said...

Mesmo sem as rugas de photoshop, as almas têm envelhecido bastante. E diante da mesmice de sempre, produzem sorrisos breves, amarelos acostumados com novidades que já nascem velhas...
Parabéns pelo blog

tha said...

Vc está completamente certo.

Mas me orgulho em dizer que eu ainda guardo o "relógio verde", entre cartas e outras coisas, numa caixa no meu armário.

É bom saber que eu não sou a única que luta contra a digitalização completa da humanidade! hehehe

Victor H. La Quay said...

Brilhante , muito brilhante . Como o valor sentimental da escrita e da leitura .

Logan said...

Muito legal, a internet realmente modificou o mundo...

Thaty said...

É meu amigo a tecnologia... século XXI... mta coisa mudou.. hj em dia ng escreve mais cartas tem e-mail... ngm mais vai na casa do amigo tem msn... ai que saudadeeeeeeeeee

Cristiano said...

Parabéns pelo blog. Se continuar assim ele não vai envelhecer e ficar de lado.


Abraço!

www.piraodagua.blogspot.com

Unknown said...

Muito bom teu texto. O assunto, e a forma que você descreveu.
Texto especial pra uma pessoa como eu que guarda cartas, bilhetes, qualquer coisa que me recorde alguém ou alguma situação(tenho um guardanapo de uma pizzaria assinado por vários amigos que dificilmente se encontravam, papéis de bala e de presentes que recebi, desenhos de crianças, etc).
O tempo vai passando e a forma de vida vai nos deixando cada vez mais distantes(como estar sempre assim... recebendo o comentário de uma desconhecida)

Gostei demais do teu texto, vou tirar um tempinho pra ler os outros...
Até

J.J. Nunes said...

Uma imagem valeu mais que mil palavras..... mandou bem no texto gostei.... tem pessoas que nao valorizam cada momento que pode ser resistrado para a eternidade, abraços!

blog said...

Sim, vc tem razão.
Mas só um adendo: a fotografia já é a morte. Explico: ela reproduz um instante que não existe mais, que passou, que está fora de nossa realidade temporal.
Talvez ela não envelheça até por isso.
Há um ótimo livro que comenta sobre fotografia.
A Câmara Clara, de R. Barthes.

Sim, sei que saí do assunto, mas o que vc disse estimulou-me a escrever.
Abraço.

Fernando Assad said...

Olá, (sobre o último comentário)

Quando falo que "a sua fotografia talvez não envelheça mais", é no sentido de que é necessário o envelhecimento da pessoa, pois só assim ela aprende. Usei os termos "sua fotografia" como uma metáfora para a vida real.
Concordo com você que a fotografia representa e mortifica algo, mas o que eu quis passar foi outro sentido.

Um abraço.

Elza said...

Perdeu-se a graça da troca de cartões. Mensagens enviadas pelo correio tradicional, vindas diretamente do coração, tornaram-se e-mails repetidos que repassamos sem dó nem piedade. Perdeu-se o encanto.
E, com isso, perdeu-se a sensação da amizade brotando pela espera da próxima carta. O E-mail vem muito rápido (às vezes não), a sensação é de Déjà vu.

Muito bom isso aqui. Voltarei mais vezes..com certeza.

www.donadecasaquasedesesperada.blogspot.com